quinta-feira, 21 de maio de 2009

Ela disse... (19)

Hoje são palavras soltas, não me apetece ter nexo. Só porque me apetecia falar contigo e não estás... sem cobranças, claro, que estás ausente com razão. E se não fosse a tua razão, seria a minha. E também não me apetece refilar comigo. Então escrevo-te. Porque sei que depois me lês.. e que depois estarás junto, ao ler... e me abraçarás. E a tristeza que me incomoda desaparece, porque te sentirei. E me fazes sentir como na música que te envio no início. Nem era para escrever... era só a música. Mas o ecrã branco desenhou-te e tive de te falar.
Mas falar só, só por falar. Que a metade de mim que costuma ter razão não está cá. E a outra metade pintou unhas. Laranja. Para lembrar o pôr-do-sol do Verão... e porque não tenho verniz amarelo. E depois vim procurar-te... e escrever com os dedos com unhas frescas de tinta, não dá jeito. Não foi boa ideia. Foi boa a intenção. E a intenção é que conta. Mas de boas intenções está o inferno cheio... Esquece tentar tirar sentido disto. Chegando ao final, quando não tiver mais palavras, vais ver que nada disse que se aproveite. Mas digo. E falo. E quando me deitar sem ti, vou estar gasta de palavras e de pensamentos. Pronta a dormir. Mas também não foi boa ideia pintar as unhas antes de me despir e vestir o pijama... Pormenores... Agora arrependo-me de hoje não ter vestido um vestido. Trenga...
Hoje tinha tido um bom dia... Ver-te teria sido um pacote de batatas fritas de presunto e um fino. Eu gosto de batatas fritas de presunto. Muito. O fino bebi-o ao jantar. Mas a vida tem esta tendência tendenciosa de me provar várias vezes a "desexactidão" das minhas escolhas. Atirar uma moeda ao ar está visto que não é solução - evitar repetir. Deixar andar às vezes funciona - estou à espera das estatísticas. E sou terrível a evitar-te. Pior ainda a deixar-te estar. Ando a treinar bom comportamento e auto-controlo. Mas acho que vou chumbar... Algum dia tinha de ser. Chumbar. Porque sempre fui boa aluna.
Hoje seria uma boa noite para dormires junto. Repara no verbo. Dormir. Porque hoje deixava-te dormir. Desde que enrolado em mim. Pelo menos o abraço. E os pés para aquecerem os meus. E a respiração no pescoço. Que eu estou de costas e tu junto a mim. Caso estivesses desatento. E um beijo pousado no ombro... quente. O beijo. Acho que o ombro também está frio. Não te importas da frieza na temperatura? Fresca no Verão, gelada no resto do ano. Falta camada adiposa, mas não sou adepta.
Vou mudar de assunto. Que me lembrei novamente de nós, na varanda da cozinha. E a falar do jantar dos reformados (lembrei-me agora do assunto do momento em causa...)... junto. E relembro que não és reformado. E que aquele beijo soube bem assim. Não bem assim... que te afastaste. Mas voltaste. Ou puxei-te... Depois faço um relatório pelo uso da força... Shame on me.
Gosto do cheiro do verniz. E gosto do teu cheiro. E agora também gosto de unhas cor-de-laranja. E gosto de algodão doce. E de montanhas-russas. Não ao mesmo tempo. Mas não digo mais de mim. Que isso são coisas para eu saber e para tu descobrires.
Já foi o último avião. E tu deves ir jantar. Ainda bem que andas sempre tão ocupado. Por mais estranho que pareça, até faz sentido dizer isto. Pelo menos do meu ponto de vista. De agora. Que também não tenho tempo para te dar. Pelo menos como gostaria. Como quero. E, sem querer tornar-me repetitiva mas já o sendo, como mereces. Assim, como o tempo é pouco, também não te apercebes. Da minha ausência. Digo eu... Não da falta.
Mas sei que é assim. O teu trabalho. E que isso faz parte de ti. E é assim como és que te gosto... E espero um dia ter mais tempo para ti. Nem que seja para o gastar à tua espera. Porque sei que chegarás. Sempre. Espero...
Foi um bom dia. Não tudo o que esperava dele. Podia ter acabado bem. Podia ter acabado ainda melhor. Mas bastava não ter acabado mal. Que eu detesto discutir, principalmente quando estou bem disposta. E depois deixo de estar... Descarregar em ti também não está bem. E já escrevi muito. Acho que começam a faltar as palavras... e enches-me novamento o pensamento. Era para esvaziar também de pensamentos, mas estes são bem agradáveis. Também incluem nós. E deitados... e peço desculpa, mas já mudei de verbo. Que até posso ir dormir... mas quando sonho, o verbo já pode ser outro. E pode incluir pele. E pele na pele. Sinais e tu a contá-los. E a sorrires-me...
Fico-me por aqui... com o teu sorriso e os teus lábios próximos. E o teu sem jeito... hesitação misturada com vontade comedida e desejo... Muito respeitador... Que ainda me deixa com mais vontade... acho que se calhar fazes de propósito para me deixares assim... Bem. Já vou no sonho e falta adormecer...
Deixo-te aqui. Espero por ti ali. Não demores.
Beijos, como o de ontem, encostados à parede.

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