Ontem só tu comedido. Eu queria não ser. Queria que não fosses. Ou que não tivesses de ser. Nem eu.
Queria mergulhar no teu abraço e sentir-me. Perder-me para me encontrar... e depois de achada ser tua. Já que me encontraste.
Queria que tudo fosse simples como isto. Como nós. Mesmo inexplicável até parece fazer sentido. No meio dos nós e embaraços... parece que é porque assim foi. Ou seria. Será? Este sentido perdido no meio do caminho e que torna a paisagem distante tão apetecível... porque é assim que tu és, na distancia e na proximidade. Em que me arrancas o coração do peito sem notares. Ou fazes de conta...
Quero-te perto, junto... mesmo que não seja como quero, ou como espero. Quero ser enebriada pelo teu cheiro... que me falhem os joelhos. Sorrir pela satisfação da presença física. De me perder por olhar. De olhar até me perder... para de novo me encontrares... e me guardares. Sentir o leve toque casual, o beijo na face, passar perto, passar junto... arrepiar-me pela vontade de te ter, sonhar-nos de olhos abertos noutro local deserto. E nosso. Abandonados pelo comedimento... Envolvidos pelas vontades... Despidos de reservas e receios. Entregues na plenitude do tempo e do desejo. E dos beijos... de um primeiro beijo eterno perdido no meio de palavras comedidas. Mas sentido... e meu.
E hoje, neste dia tão igual a tantos outros, relembro-te. Como meu que és e não te tendo. Mas sentindo perto. Fico dividida entre a vontade de te ter e o prazer do desejo de te querer. Ainda que estejas aí e eu aqui e nós algures... Num mundo que nos une e nos mantem separados. Num tempo que se arrasta para unir... o que unido está sem se juntar. E são estes acasos incompreensíveis que se percebem por entre os dedos que contam os tempos que faltam para te encontrar. E olhando para as mãos, que vazias te seguram... e escapa-se pelos dedos o comedimento... Sobra a entrega pedida, perdida nos embaraços das palavras. Enterrada no peito fica a restante vontade...
E amanhã mudam-se os tempos, ficam as lembranças de uma era sentida por viver. Espera algures o beijo prometido, disfarçado em sons inaudiveis que proclamam alto o encontro marcado... Amanhã o comedimento será outro. Ausente nas palavras, presente nos gestos. Seguro de si na incerteza do acto. Do beijo. Nas palavras suspiradas pelos lábios, trémulas no compasso de espera da respiração ofegante... Amanhã espero-me tua. Espero-o nosso. Congelado num tempo eterno, na terra do mistério dos "amanhãs". E espero que chegue. Que chegue cavalgando, que venha rápido, no seu próprio tempo, digno de um amanhã sonhado hoje, trazido por ontem...
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