sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Já que tenho psicólogas a lerem-me

e futuras juízes também...
Ontem foi dia do Mister ir para o pai. Eu estava presente que tinha coisas para lhe entregar. Porque de outra maneira estou "proibida" pela juíza de estar lá.
Como cheguei primeiro, trouxe-o para a porta da escola, pois liguei ao pai e ele disse estar mesmo a chegar. Quando estávamos à porta e ele chegou, o Mister escondeu-se atrás de mim. achei eu, na altura, que era por brincadeira. Como demorou a sair, o pai acabou por se meter com ele e pegar-lhe ao colo. Explicou-lhe que tinham de ir, para não se atrasarem, pois tinham uma festa de aniversário. O Mister pega-lhe na cara, olhos nos olhos e diz-lhe:
- (nome próprio), não que'o i'! Não gosto da tua casa. Que'o fica' cá.
Muito sério, sem gritar.

Será isto normal?

Ainda há poucos dias, numa véspera de viagem para casa do pai, relembrei-o que era fim de semana de ir para casa do pai. Vou tentar exemplificar o diálogo:
Eu - Mister, amanhã é dia de ir para o pai. Temos de preparar as coisas quando chegarmos a casa (estavamos no carro).
Mister - Eu não que'o i'. Po'que tenho de i'?
Eu - Filhote: há dias que passas comigo e outros que passas com o pai. Gostamos de ti e queremos todos estar contigo.
Mr - E po'que tenho de i'? Não posso fica'?
Eu - Não... Foi uma senhora que mandou e temos de obedecer se não ela fica chateada.
Mr - E onde está essa senho'a?
Eu - No tribunal.
Mr - Então vamos lá pa'a eu fala' com ela, está bem?

Eu disse que sim, que ia ver onde era e disfarcei. Ao fim de quase um ano de fins de semana, pensei que ele gostasse de ir. E houve, realmente, uma fase em que ficava entusiasmado. Agora vai contrariado e faz imensas perguntas sobre o ir e o não poder ficar. Eu sei que não adianta levá-lo ao tribunal. Ainda nem 4 anos tem e não ligam para o que diga. Já para não dizer que ainda corro o risco de dizerem que sou eu que lhe "faço" a cabeça. Conselhos?

10 comentários:

Madame Pirulitos disse...

não há uma resposta assim que explique tudinho querida Crente.

Sabes, os meus filhos vão todas as segundas-feiras dormir a casa dos avós paternos. Um adora e outro não.
isto para te dizer que não significa que lá o tratem mal, que não gostem dele, etc, etc.
Eu sei que os meus sogros tratam bem os meus filhos mas tem tudo a ver com personalidades e feitios e tem a ver de um ser mais apegado à sua casa do que o outro.

Também há outra coisa, que nós gostomamos falar na psicologia...
Chamam-se lealdades divididas. Mesmo que não lhe mostras directamente que não gostas quye ele vá, que tenho a certeza que não o fazes, ele sente. As crianças sentem e tudo. E o que não sentem imaginam. Dentro das suas capacidades.
É possível que ele não queira ir porque sabe que tu não gostas que ele vá; é possível que ele não queira ir para te fazer feliz; porque se gostar de ir pode ter medo que isso te deixe triste com ele.

isto é só uma possibilidade. mas para perceberes mesmo o que se passa devias levá-lo a uma psicóloga.

beijo enorme.

I. disse...

A Madame Pirulitos já disse parte do que eu queria dizer (sobre a questão de, inconscientemente ele te querer agradar), e sim, leva-o a um/a psicóloga/a. Ele precisa do seu espaço, sem pai nem mão.

Mas agora vou-te dizer uma que, tivesses tu o azar de eu ser advogada do teu ex-marido (não sou advogada, mas podia ser, e sim, sou cabra quando quero e para defender um cliente lançava mão disto) já estavas ainda pior no processo: alienação parental. O teu filho trata o teu actual companheiro por pai, e o pai pelo nome próprio. Isto não é normal, não é bom, e não o devia encorajar, antes devias dissuadir. Podem vir mil psicólogos dizer que tal e coiso, ele identifica como pai quem faz o verdadeiro papel de pai, mas azarucho: ele tem um pai, pode não ser o melhor, pode ser até uma grande treta (não sei), mas é o há, tem de se habituar à ideia. Ao Comandante, que chame papu, papi, papuça ou dentuça; pai, nunca. Vai por mim. Distinção, tem de haver.

(psicólogo, depressa. ah, nenhum juiz vai ouvir uma criança com menos de três anos, ou se ouvir não lhe vai fazer a vontade. criança pequenina é a) facilmente manipulável; b) não conta toda a verdade, nem sabe distinguir verdade de mentira ou de efabulação, c) não tem autonomia nem capacidade para tomar decisões. de a juíza ouvir o teu filho referir-se ao Comandante como pai e ao pai pelo nome, és capaz de estar bem lixadinha.Digo-te isto nem tanto para teu governo, mas do pequeno, que me está a preocupar esta cena, o puto deve ter a cabeça num nó cego)

Crenteoptimista disse...

Meninas, obrigada:)
Eu tento incentivar as idas, mas verdade que não digo que quero que ele vá. Não consigo... É como se, ao dizer-lhe, ele sinta que não o quero cá, sei lá... Também fico baralhada.
Quanto ao tratar o Comandante por pai, ele não trata. Primeiro, só começou a tratá-lo por papá depois de começar a andar nestas andanças (belo português, eu sei...). Cá em casa era o Comandante e era o pai, duas pessoas distintas. Depois começou a ser o papá Comandante e o pai (iniciativa do Mister); disto passou para papá e pai, papá e pai XXX... Do outro lado sei, porque disseram-me mesmo e o Mister também acabou por comentar em casa, que lhe disseram que só tinha um pai - cá em casa disse-lhe que era verdade, "expliquei-lhe" quem o fez e disse-lhe também que não havia mal em ter dois: papá e pai. Foi aí, quando começou a pressão, que ele passou a tratar o pai pelo nome próprio. Continua a saber perfeitamente quem é o pai se lhe perguntarem e, nós e pessoal de cá, referimo-nos sempre ao pai como pai XXX. E o comandante foi sempre o papá e nunca o pai.
A questão da alienação parental é tramada. Mesmo que se tente fazer o contrário nunca temos a certeza de estar a fazer um trabalho bem feito. E, já que se falou neste aspecto, o Mister chegou a vir de Lisboa a dizer que queria ficar lá porque o pai lhe tinha dito que eu não gostava dele (Mister) - e isso eu acho que não se deve fazer, nunca!
A maneira mais certa de o convencer a ir para lá é falar-lhe na tia e no primo. Fica sempre contente por ir se souber que vai estar com eles. Mas acredito que a tia seja mais neutra que qualquer um de nós e ele sinta isso, além de ter um bebé para "brincar".
Ainda dentro dos nomes: ele trata a minha mãe pelo nome próprio. Sabe que é avó, mas não usa o termo. E sei que se adoram.
Vai daí que às vezes não sei se é bom ou mau tratar as pessoas pelo nome, se é bom ou mau sinal. O que me preocupa é não querer ir...
Um outro aparte, pequenito: sempre que ele trata o pai pelo nome próprio, inclusivé na presença do mesmo, eu corrijo-o.
Já me alonguei outra vez, não foi?
Tenho mesmo de recomeçar as consultas de psicóloga dele, que pararam pois a mesma tem uma gravidez de risco. Deverei arranjar outra?
Beijos e obrigada
I., gosto mesmo dessa tua característica de seres directa :) Obrigada!
Pirulitos - Hás-de conhecê-lo e ver ;)

I. disse...

Outra coisa que tens de mudar: quando ele te pergunta porque deve ir para o pai, está-te a pedir autorização para ir, se divertir, e para gostar do pai. A resposta que lhe deste veio fundamentar o seu receio de que tu não queres que ele vá, há um terceiro que te obriga. É mau, muito mau. Engole o sapo. Vais para o pai porque ele gosta muito de ti, tem muitas saudades tuas e adora estar contigo. Se te faz sentir melhor, reforça que claro que vais ter muitas saudades (assim ele sente que não o estás a despachar), mas que depois têm a semana toda para as matarem!
Outra: Se o pai lhe diz mal de ti, descansa que o catraio nunca o vai esquecer. Os putos são tramados. Como também nunca esquecerá que a mãe não fazia o mesmo! E ele só tem um pai. Se bem que aqui tenho algumas dúvidas de como agir, pede ajuda a um especialista. É bom ele gostar do comandante, claro, sentir aconchego familiar na sua presença, mas a cena dos sois pais pode gerar um conflito emocional, percebes?

Olha que o teu puto é esperto. Ele precisa é de saber que o adoras, que fazes tudo por ele, mesmo mandá-lo para o pai porque sabes que é bom e importante.
Percebo que te custe a engolir (a sério, uma das minhas maiores felicidades é não ter tido filhos com o meu ex marido, ou ainda hoje estava a aturar o animal que ele se veio a revelar). Mas pá, o piqueno merece! A sério.

Forcinha, gaja. Olha que eu sou bruta como casas,`mas digo-te estas merdas porque gosto-te. Caso contrário, encolhia os ombros e não dizia nada (sim, só sou má para quem me merece respeito, confuso? pois sou :D)

Crenteoptimista disse...

I. - Gosto mesmo de ti sabes? Obrigada!
Costumava dizer-lhe como disseste "vais porque ele tem saudades tuas e gosta de ti como eu"... Verdade que quando começaram com os "ele disse que tu não gostas de mim mamã" deixei de ser tõ simpática. Mas ler-te faz-me relembrar, mais um vez, que não preciso de descer ao nível deles, que é melhor seguir o coração e pensar sempre primeiro no que é melhor para o Mister. E fazer figas, para que o Mister cresça saudável e saiba sempre fazer as suas próprias escolhas com responsabilidade. Confiar na educação que lhe damos, pelo menos cá de casa.
A parte dos dois pais chegou a ser discutida aquando ele andava na psicóloga. Ela, na altura, disse não haver problema visto que o Mister sabia perfeitamente quem era o pai e o que o Comandante era, tinha os papéis bem definidos. Essa questão também surgiu no tribunal e a juíza e a procuradora também disseram que não fazia mal. Acho que não voltaram a chatear o Mister com essa questão lá em Lisboa.
Resumindo, obrigada pela estalada. Também faz falta de vez em quando :)
Beijos

Precis Almana disse...

Comecei a ler os comentários depois do post e ia dizer-te o que a I. disse no segundo comentário. E a minha sugestão - se calhar fazes - é mudares de assunto tão rápido quanto possível quando ele disser que o pai diz mal de ti. E, se alguma vez tiveres hipótese de falar com o pai dele, e com calma - não conheço a situação - dizeres isso mesmo, que ele que evite dizer isso ao miúdo porque tu estás a fazer o mesmo, para que ele cresça no ambiente o mais saudável possível dadas as circunstâncias.
E boa sorte. Vai pela I., está a dar-te conselhos muito sensatos.

R. disse...

Querida,
não é tanto uma questão jurídica a que está, neste momento, na mesa, mas antes psicológica. Assim sendo, escuso-me a tecer comentários. Não gosto de falar do que não sei. Desejo-vos as maiores felicidades :)
Um beijinho enorme*

Paula noguerra disse...

Querida,

Há muita coisa que me faz confusão... mas a maior de todas é dizerem uma coisa e depois acharem outra. Como quase todos os comentários aqui dizem: O MIUDO É ESPERTO!(Todos são) E é isso que é o mais importante. Sou da opinião (pois para além de ser mãe vivo a mesma situação ou bem pior não sei...) mas cada situação é complicada por si mesma, que os miudos não nos mentem!

Uma coisa é certa, eu também não consigo esconder os meus sentimentos. Chama-me de burra, de estupida... mas faz parte de quem sou. Os meus filhos conhecem-me e detesto teatros, e odeio injustiças. Os meus filhos sentiam (e digo isto no passado pois há quase 2 anos que os meus filhos não vêm o pai deles - por opção do pai) tristeza não pelo pai os não vir ver mas sim porque têm um óptimo exemplo em casa (que é o meu marido) e saberem que não podem ter igual. O meu filho (que é mais novo) por vezes pergunta apenas quando é que o Pai Nico (pois é assim que ele o trata) o vem ver... acreditas que não tenho resposta para lhe dar, e aí sim sinto que o deixo triste. É uma criança que ainda faz xixi na cama e chora de 5 em 5 minutos (tem 8 anos). A minha filha (que já tem 16 anos)está completamente indiferente.

O meu filho chama os dois de pai. Um é o pai Nico(pai verdadeiro) e o meu marido trata também por Pai (muitas vezes para com outras pessoas é que diz Pai Nico ou Pai Carlos), mas para ele e era aqui que queira chegar, Pai é quem trata deles e não quem os fez. E isso é o mais importante. Podem-me vir com as maiores teorias pois ele amam quem trata e gosta deles.

Não quero dizer com isto que o pai verdadeiro do teu piqueno não goste dele.. lá deve gostar certamente, mas o menino sente-se melhor e mais seguro ao pé de ti.

Nunca te escondas para o proteger pois mais cedo ou mais tarde eles vão saber e SABEM das coisas. Sentem!

Sou da opinião, que deves fazer o teu melhor quando o tens contigo. E o papel do pai dele é fazer o mesmo. E se o menino prefere ficar contigo poderá realmente não querer dizer que não goste do pai, mas sente-se melhor ao pé de ti e do Comandante.

Escuta sempre o menino, mas nunca descures do que TU sentes, pois TU também és importante, na vida dos outros mas principalmente na vida do teu filhote!

Desculpa o texto ser longo...
GOSTO DE TI!


BJS SUPER DOCES****

Madame Pirulitos disse...

Bom, reitero o que eu e a I. dissemos. para além de mães estamos a dar a opinião de especialistas. E tu sabes disso.

Não é fácil mas aqui não se trata de esconderes os teus sentimentos mas pores os dele em primeiro lugar. Tudo isto é muito bonito mas muitas vezes por mais que gostemos dos nossos filhos (e gostamos, não há qualquer dúvida sobre isso) acabamos por pôr os nossos sentimentos em primeiro lugar.
Não mostrar tudo o que se sente, engolir sapos, não é ser menos verdadeira. É, também, ser mãe.

Beijo enorme.

Margarida disse...

Li atentamente este post e os respectivos comentários. A minha experiência profissional (fui advogada durante 10 anos) e a minha experiência pessoal (divorciei-me há 1 ano, sem quaisquer confiltos e com uma muito bem sucedida guarda partilhada da nossa filha de 11 anos) permitem-me ter uma visão muito ampla desta questão. Concordo com muito do que foi dito por aqui. E embora gostasse de acrescentar algumas coisas, creio que o mais importante é que, por um lado, não ignores os sintomas de conflito que o teu Mr. possa apresentar e por outro te apoies num bom profissional para os decifrares, caso tenhas necessidade. Ninguém nasce ensinado para a parentalidade. O crescimento dos nossos filhos confronta-nos e muito com o nosso próprio crescimento, enquanto crianças. Isso coloca-nos também a nós perante a resolução de conflitos internos que, por não termos suficiente distanciamento, acabamos por inconscientemente projectar neles. Os profissionais existem para nos ajudar. Se tiveres uma dor dentes não te pões a arranjá-la em casa com um alicate, pois não? Recorrer a um psicólogo infantil é apenas ter a humildade de sabermos que não sabemos tudo, a todo o tempo. Há coisas que eles nos ajudam a ver e resolver com a facilidade de quem nos dá "uma varinha de condão". Para tratar um dente também não precisamos deixá-lo chegar ao ponto de abcesso, pois não?
Um psicólogo nunca deve ser encarado como uma bengala, sem a qual não damos um passo, mas também não deve ser ignorado como um excelente recurso para nos ajudar a ver melhor o caminho, num determinado percurso.

Bem... também acho que já me alonguei e muito!
Beijinho e espero que já estejas melhor da maleita :)

Margarida